A Coperve e a UFPB já se pronunciaram sobre o uso de cotas, e o resultado: aprovadas 25% das cotas para alunos das escolas públicas e negros. É algo justo. Na teoria é assim, pena que na prática seja totalmente diferente.
A começar pelo principal ponto de discussão: o racismo. Dizer que algumas vagas devem ser reservadas para negros implica dizer que os mesmos não têm a capacidade de preencher essa vaga. O que é simplesmente absurdo: a tentativa de acabar com o racismo torna o discurso mais racista ainda. Além do mais, as universidades apenas se importam com o resultado do PSS, e tem muitos negros mais inteligentes e capazes que a maioria dos brancos, que podem tirar notas boas, não precisando de cotas. Apenas se alguém dissesse que foi impedido de estudar em uma universidade porque era negro, aí sim esse discurso valeria. Mas não, isso nunca vai acontecer com um aluno que faça ótima pontuação. Deveria existir, isso sim, em empresas privadas, principalmente as de pequeno porte, onde aí sim há preconceito mais explícitos. Afinal, quem nunca ouviu falar de alguém que não foi contratado na loja A ou B por causa da cor da pele? Outro problema em termos raciais é: para ter acesso às cotas, basta
se declarar negro. Ora, se fosse algo mais racional, como ter os pais e avós negros, ou ser comprovadamente negro, até que se engoliria, mas se declarar negro? Pera aí, né...
Agora vem o outro problema: vagas para alunos de escolas públicas. A começar, tiro exemplo pela minha família e muitos conhecidos de infância de meus pais: todos estudaram em escolas públicas e passaram dificuldades na infância (a segunda característica está bem mais rara hoje), e mesmo assim grande parte hoje está estabilizada financeiramente. Então o que impediria um aluno de escola pública estudioso de ingressar numa faculdade? Nos últimos anos, têm se visto uma parte considerável das altas pontuações de vestibulares conquistados por alunos de escolas estaduais e até mesmo municipais. Estes alunos precisariam de cotas? Não, porque quem quer se dedicar passa mesmo sem frequentar o colégio, e quem não quer nada pode ter como professores Machado de Assis, Isaac Newton, Benjamin Franklin e Milton Santos, que não vai a lugar nenhum mesmo. Além do mais, há outro aspecto: muitos pais se sacrificam para colocar os filhos pelo menos durante o ensino médio em um colégio particular, e segundo a nova regra, deve-se ter estudado pelo menos três anos do ensino fundamental e TODO o ensino médio em escola pública. Ótimo, os pais que há dois anos atrás colocaram o filho num colégio privado se lascaram, então. Onde há justiça aí?
O pior não é nem isso, o pior é o fato da previsão de, gradativamente, colocarem até 40% das vagas na universidade como cotas, e está se cogitando a probabilidade de quebrar de vez a represa e colocarem 50%. E, como depois que passa um boi passa a boiada todinha, logo logo todos os grupos que se sentem marginalizados (e que têm representates hipócritas e interesseiros o suficiente) na sociedade vão exigir cotas para si, e em breves veremos cotas para mães solteiras, para favelados, para deficientes físicos e mentais, para homossexuais, para favelados, para portadores do vírus da AIDS, para mulheres feias, para gente com mau-hálito, para emos, para cornos, para almas-sebosas, etc.
E aí vem a pergunta: por que, em vez de criar cotas e mais cotas, o governo desse país não faz investimentos, ou melhor, não já investiu há muito tempo, em tentar melhorar o ensino básico público desse país e criar uma política de melhor integridade racial? Por que em vez de dar 25% das vagas, eles não se preocupam em melhor remunerar os professores, reformar os colégios e educar as crianças desde pequenas? Por que não se preocupa em formar cidadãos que saibam que as características como cor da pele são apenas superficiais e que preconceito é coisa de quem tem a cabeça vazia? Por que, em vez de se preocuparem com fazer a população feliz no presente e melhorar a sua imagem, não tentam criar melhores cidadãos para o futuro, fazendo investimentos a longo prazo? Talvez porque o egoísmo de fazer sua imagem ser bem quista no presente impeça de pensar no futuro, de querer algo melhor, antes para os outros do que para si.
E o funil continua se estreitando...