quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Decadência - Augusto dos Anjos

Iguais às linhas perpendiculares,
Caíram, como cruéis e hórridas hastas,
Nas suas 33 vértebras gastas

Quase todas as pedras tumulares


A frialdade dos círculos polares

Em sucessivas atuações nefastas

Penetrara-lhe os próprios neuroplastas

Estragara-lhe os centros medulares


Como quem quebra o objeto mais querido

E começa a apanhar piedosamente

Todas as microscópicas partículas


Ele hoje vê que após tudo perdido

Só lhe restam agora o último dente

E a armação funerária das clavículas


Esse é, de longe, o meu poema favorito do Poeta Raquítico. A sensação que passa é de um desolamento sem limite, uma falta de esperança, um vazio existencial que, mesmo sendo temas recorrentes na obra do autor, estão aqui muito bem retratados.

Pode-se notar que o poema fala de morte, começando com um enterro. O solo em que o personagem clamado pelo eu-lírico torna-se bruto com ele, usando inclusive de uma aliteração de fonemas com R (caíram, cruéis, hórridas, trinta e três, vértebras e pedras) para dar a idéia de esmagamento dos corpo sendo enterrado.

Na segunda estrofe, o uso de termos cientificistas (uma das marcas registradas do autor) serve para mostrar a deterioração do corpo por agentes externos (No caso, A frialdade dos círculos polares), contínua e inevitável (Em sucessivas atuações nefastas), mas uma vez declamando o desespero do autor em relação a condição efêmera da matéria viva. Nota-se que ele faz uso do sistema nervoso (neuroplastas) e sanguíneo (centros medulares), representando, assim, a mente e o organismo, ambos consumidos ao nada.

Por fim, a elevação e a chave de ouro tornam o poema várias vezes mais profundo. Nota-se um profundo arrependimento, uma angústia infinita, o desespero de quem perdeu tudo, reduzido ao absoluto fracasso do nada. Poucos poemas são capazes de transmitir uma sensação de incerteza qual a que se encontra ao final desses versos, nota-se que ainda falta alguma coisa, que ainda há um vazio.

Sem mais, um desenho:

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Is there anybody out there?

Terça à tarde, só, ouvindo Scorpions aqui e conversando com dois ou três amigos pelo MSN. Há melhor momento para começar um blog do que esse?

A idéia já vinha dentro de mim há algum tempo, mas só agora veio aflorar mesmo. Mais precisamente ontem, falando com Gabriel na sala. Ele disse que queria montar um blog há algum tempo e, como eu tinha o mesmo plano, falamos sobre montar ele. Como eu não consigo falar com ele (celular desligado) e a vontade estava grande demais, resolvi começar agora mesmo.

Não há muito a se falar, é a primeira postagem, tanto que o título é um meio que chamativo (nome de uma música de Pink Floyd, do lendário álbum "The Wall"), e explicar os objetivos de um blog... putz, não há o que se falar. Falemos sobre a idéia, então...

Há muito eu queria divulgar meus trabalhos (desenhos, poemas, contos...) mas não achava lugar para isso. Decidi que um blog seria a melhor saída. E, eis-me aqui, afinal.

Bem, deixemos o resto para depois...